Que beal fotografia, tendo por fundo um céu azulíneo, esplêndido, esbatido em ligeira nebelina, em contornos muito suaves!... Eis um particular da floração, uma floração feita de botões amigdalinos, viçosos, a abrirem-se, a "rebentarem" as apertadas sépalas... Anúncio da primavera?!... Anúncio de um desabrochar que se "estende", que se amplifica, numa aparente e desalinhada harmonia. Faz-nos bem olhar, tornar a contemplar, tanto que até o perfume que exala das flores nos embriaga, nos inunda... A natureza replica-se em cada ciclo, como a dizer-nos que tudo se sucede sucessivamente, em continuidade. Apetece dizer: - Parai e olhai!... Tudo rejuvenesce, tudo revive, tudo se renova, mesmo quando parece que nada fenece, que nada se submergiu definitivamente. Entende-se esta bela aparição que se "estende", que aqui fica a se "estender" por lago tempo?!...
Se estende em largura, altura, amplitude positiva, de olhos e braços abertos, quer seja inverno ou verão, calor ou nevão, intempérie ou primavera, sempre a crescer, abraçando quem se lhe chega olhando o céu azul, a lua, as estrelas ou a neblina. Se estende desde sempre e para o sempre possível sem deixar de ser passível mas continuando a acreditar no impossível de se estender ainda no agora e no mais.
Quem pode deter o instante em que usamos a palavra, o instante em que olhamos e nos vemos, lugar de distância para onde remetemos todo o nosso consciente consciencializável, quem o pode deter?... Qual de nós pode acolher essa deslocação visual, esse sopro que parece inesgotável, gesto do pensamento e fermento da fantasia de que precisamos, essa amplidão, esse voo, essa respiração sustida, em que a ausência se abriga e nos faz sofrer, porque os afectos crescem no vazio do "não estar", na espera contínua do desejo?... Quando podemos ser anteriores a nós mesmos, e manifestarmos o lugar do dizível, a par da extensa disseminação que uma inagem, muitas imagens podem provocar na geometria do nosso corpo?... Quando analiticamente vamos pela finitude, sem repararmos no recomeço de cada coisa no seu princípio?... Oh!... A palavra inesperada, coetânea, laminar, berço da floração das ideias, que nos absorve o imaginário a todos os momentos e nos enche daquela positividade pura que nos alimenta. As palavras são as jóias com que se constrói um texto apelativo, o veículo que leva a nossa voz em direcção ao outro, e expõem as necessidades, as alegrias, o conforto, a melancolia, os círculos de chuva dos nossos imprevistos, a linguagem que nos liga à intimidade, ao Ser, à transfiguração dos que se dedicam a nós, e a quem amamos. Sobretudo sem medo das palavras, das vozes que bailam dentro de nós, dos conteúdos que nos enchem e nunca divulgamos, e tudo, tudo... "sem nunca dizer adeus", como a Emília tão adequadamente explicita, expressão que tão estreitamente abraça. Os impossíveis são afinal os possíveis que cintilam na nossa comunicação. Os possíveis... ao alcance da nossa mão, embora os possamos tactear a medo, com a desconfiança com que assinalamos o desconhecido. O desconhecido do outro pode ser o mais conhecido do nosso Ego... ainda outro olhar... Cada um de nós poderá ser mais desconhecido para si próprio, em si mesmo, do que o outro o é para nós!... Por outro entendimento ainda mais perfilado, poderemos conhecer melhor aquele que temos em nossa presença ou com quem dialogamos, do que o conhecimento que resulta da introspecção com que entramos na nossa intimidade consciente ou no inconsciente de nós que nunca descobrimos! Estendemo-nos, pois, neste estender, na extensão de quem vela por nós, de quem reparou em nós...
Que beal fotografia, tendo por fundo um céu azulíneo, esplêndido, esbatido em ligeira nebelina, em contornos muito suaves!... Eis um particular da floração, uma floração feita de botões amigdalinos, viçosos, a abrirem-se, a "rebentarem" as apertadas sépalas... Anúncio da primavera?!... Anúncio de um desabrochar que se "estende", que se amplifica, numa aparente e desalinhada harmonia. Faz-nos bem olhar, tornar a contemplar, tanto que até o perfume que exala das flores nos embriaga, nos inunda... A natureza replica-se em cada ciclo, como a dizer-nos que tudo se sucede sucessivamente, em continuidade. Apetece dizer: - Parai e olhai!... Tudo rejuvenesce, tudo revive, tudo se renova, mesmo quando parece que nada fenece, que nada se submergiu definitivamente. Entende-se esta bela aparição que se "estende", que aqui fica a se "estender" por lago tempo?!...
ResponderEliminarSe estende em largura, altura, amplitude positiva, de olhos e braços abertos, quer seja inverno ou verão, calor ou nevão, intempérie ou primavera, sempre a crescer, abraçando quem se lhe chega olhando o céu azul, a lua, as estrelas ou a neblina. Se estende desde sempre e para o sempre possível sem deixar de ser passível mas continuando a acreditar no impossível de se estender ainda no agora e no mais.
ResponderEliminarQuem pode deter o instante em que usamos a palavra, o instante em que olhamos e nos vemos, lugar de distância para onde remetemos todo o nosso consciente consciencializável, quem o pode deter?... Qual de nós pode acolher essa deslocação visual, esse sopro que parece inesgotável, gesto do pensamento e fermento da fantasia de que precisamos, essa amplidão, esse voo, essa respiração sustida, em que a ausência se abriga e nos faz sofrer, porque os afectos crescem no vazio do "não estar", na espera contínua do desejo?... Quando podemos ser anteriores a nós mesmos, e manifestarmos o lugar do dizível, a par da extensa disseminação que uma inagem, muitas imagens podem provocar na geometria do nosso corpo?... Quando analiticamente vamos pela finitude, sem repararmos no recomeço de cada coisa no seu princípio?... Oh!... A palavra inesperada, coetânea, laminar, berço da floração das ideias, que nos absorve o imaginário a todos os momentos e nos enche daquela positividade pura que nos alimenta. As palavras são as jóias com que se constrói um texto apelativo, o veículo que leva a nossa voz em direcção ao outro, e expõem as necessidades, as alegrias, o conforto, a melancolia, os círculos de chuva dos nossos imprevistos, a linguagem que nos liga à intimidade, ao Ser, à transfiguração dos que se dedicam a nós, e a quem amamos. Sobretudo sem medo das palavras, das vozes que bailam dentro de nós, dos conteúdos que nos enchem e nunca divulgamos, e tudo, tudo... "sem nunca dizer adeus", como a Emília tão adequadamente explicita, expressão que tão estreitamente abraça. Os impossíveis são afinal os possíveis que cintilam na nossa comunicação. Os possíveis... ao alcance da nossa mão, embora os possamos tactear a medo, com a desconfiança com que assinalamos o desconhecido. O desconhecido do outro pode ser o mais conhecido do nosso Ego... ainda outro olhar... Cada um de nós poderá ser mais desconhecido para si próprio, em si mesmo, do que o outro o é para nós!... Por outro entendimento ainda mais perfilado, poderemos conhecer melhor aquele que temos em nossa presença ou com quem dialogamos, do que o conhecimento que resulta da introspecção com que entramos na nossa intimidade consciente ou no inconsciente de nós que nunca descobrimos! Estendemo-nos, pois, neste estender, na extensão de quem vela por nós, de quem reparou em nós...
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