Em união, em esforço conjunto, para atingir a expressão total do útil e do objectivo, existe - por consequência da força que colocamos - algo de tensão, e não só. Também resilência, e resistência para suportar o mesmo esforço. Os argolões aí estão à vista -na foto - agarrados, apertados uns aos outros, esticados, oferecendo tudo, todo o seu máximo. Nós?!... Tem toda a razão, Emília!... Nós não precisamos dessa grelha, desse espalmar de "tensão" e "resistência" para estarmos unidos, na procura do mesmo fim. Eis, pois, qualquer forma de equívoco e interpelação e ainda de interrogação que uma simples foto pode provocar, quando nos propomos adular a mensagem com trajes de metáfora, da metáfora que ela nos sugere. A amizade não necessita de viver em tensão, nem em situação de resistência, pois a mesma é livre, em adaptação permanente, e tem em vista criar conformo, ternura, certezas. Fi-la talvez pensar em contradições, sem querer, mas descrevia somente o que a foto me revelava naquele momento. Ao correr do pensamento... Porém, de certo modo pretendia assemelhar esse conjunto à força e à "movida", à movimentação que uma amizade (a nossa, por exemplo...) pode criar e desenvolver, quando sentida, partilhada, autêntica, continuada! (Esta "coisa" de criarmos, de fazermos crescer uma amizade com alguém que nunca se viu, não se conhece reciprocamente, só para almas do tamanho das nossas!...) Toda a minha vida, Emília, escrevi diariamente em órgãos de comunicação social, para um determinado público, dirigindo-me ao anónimo, ao cidadão, ao homem da rua, pensando que me leria, dirigindo-me - pois- a quem desconhecia totalmente. Todavia, é belo, instrutivo, às vezes até grandioso, e até bonito conversarmos com o leitor incógnito, que gosta do que escrevemos, ou mesmo abomina o recheio do que pretendemos comunicar. Comecei muito cedo e ainda continuo. Não só nos jornais e revistas, nos livros, como na rádio, em palestras, falando para grandes, pequenos ou médios grupos. As voltas da vida levaram-me a um outro "métier", que é aquele que exerço em "full time", e que se encontra muito longe disto, e contudo também é feito de comunicação, de comunicação com os outros. Faço-me compreender?!... Tão simples. "Branco é, galinha o põe", reza o aforismo... É bom escrever para si.
...Como na fábula de Narciso, Emília, o sujeito conhecedor e o objecto conhecido mergulham um no outro e, nas águas niveladoras do saber, entre verdade e imagem, entre corpo e reflexo não há separação possível... Como nos ensina o Professor Eduardo Lourenço Faria.
Poderá, sim... no que diz ao "sufoco da alma", se o soubermos captar, assimilar, sem nos fixarmos demasiado, sem nos deixarmos prender integralmente na imagem. No entando, quanto a mim, não é na fábula de Narciso que se poderá escolher o melhor caminho, o caminho pessoal e intransmissível para colhermos a liberdade de espírito, a verdadeira, a autêntica. Esta mesma quer-se livre, desvinculada, renovada, revolucionária em si mesma, em qualquer parte, sob quaisquer condições "atmosféricas", sob quaisquer ventos, soprem donde soprarem. Olhe que não podemos unicamente fazermo-nos "entender" aos nossos olhos... Seria extremamnete redutor, pobre e finalizante. Nós, Emília?!... Nós não pensamos nada, não existe propriamente um Homem "pensante", nós "ouvimos" apenas, e ouvindo e ouvindo-nos julgamo-nos "pensantes". É complexo?! Verá que não tanto, como possa parecer ao primeiro olhar... Não sei se subscreverá este ponto de vista... É sempre independente quer no discordar ou no conjugar. Não receie...
Livre, pode alguém ser inteiramente livre, desvinculado? Não acredito que seja possível porque temos sempre raízes em algum lugar. Devia confiar no mundo? Sim mas perdi a esperança de reaver a sua ingenuidade há muito tempo, acho que já não consigo recuperá-la. Posso ouvir e ouvir-me, não sei se sou pensante mas tenho de querer ouvir e querer analisar o que ouvi, traduzir, não é o mundo que fala comigo sou eu que ao vê-lo o quero compreender, isso não é pensar?
Quando me refiro a "livre, desvinculado/a", referia-me à liberdade de espírito, ao pensamento e à sua própria distensibilidade, ao modo de opinião, ao que essa opinião pode ajudar-nos a ver muito mais "mundo" e muito o íntimo dos outros que passam ao nosso lado. E nisto acredito, e o tento praticar e levar a termo. Que importa se demonstro ingenuidade?!... Ser um pouco ingénuo sem perigar a nossa própria individualidade e dignidade é bom, é doce e denota apreço, conciliação pelos mais e estar em paz connosco próprios e com o os outros. Lanço-lhe de novo o apelo à confiança!... Aliás, se não fosse o primeiro a acalentar confinça em si, não lhe estaria a escrever, aqui neste momento. Já pensou?!... Dir-me-à que não a conheço. Pois, sim. Mesmo os que não conhecemos são sempre um desafio hermenêutico para nós. Ou não?!... Todavia se um de nós, Emília, não for dando os primeiros passos, como caminhar, como alcançar, como falar, como saber como o outro pensa? Como dar-nos aos que necessitam de nós, sem esperarmos ou querermos paga imediata. Claro que no "absoluto" não existe liberdade total, e aqui concordo com a Emília!... Não há "livre" absoluto, não existe ninguém verdadeira e inteiramente livre e independente... Porém, podemos idealizar o outro sentindo-o como uma fonte de conhecimento para nós, para nos cultivarmos, nos instruirmos, para nos educarmos, aquirirmos saberes e códigos que nos ajudarão a percepcionar, a pensar, a interpretar. Também é evidente que temos raízes em um lugar, ou mais. Raízes culturais, familiares, sociais, institucionais, operáticas. E é muito bom tê-las, porque fomos criados para pertencer a algo, a um lugar(es), a uma pessoa(as). Este sentido de pertença doce, sedutor, cativante, igualmente se nos torna indispensável para a nossa incompletude. É um dos caminhos que conduz ao ser gregário, à empatia, à necessidade de ter mais e melhor do outro, daquele(a) que nos completa, pois nascemos incompletos, insuficientes, e sozinhos. Aprendi que há sempre a possibilidade de descobrir alguém em quem confiar. E é um desafio permanente. Não propriamente a prática dessa expressão "confiar no mundo" em geral e em abstracto, leia-se, em toda a gente. A cada ser que contacta comigo, deixo-me restar na posição de aprender. Igualmente consigo, Emília, sem nada saber de si, tenho aprendido, pode crer! E no último parágrafo, compreendo-a, mas sempre continuando a afirmar-lhe que "o mundo, os outros também falam consigo", a par do seu esforço de interpretação. E - certamente - isso é como diz uma forma de pensar. Não sobeja dúvida!... Provavelmente alguém ou muitos a desiludiram, mas isso não pode tirar-lhe a possibilidade de poder acreditar e confiar. A ingenuidade é falta de conhecimento. A ingenuidade pode ser uma virtude.
Escrevi demasiado, eu sei. Não vai ter pachorra - passe a expressão popularucha... - par me ler. No entanto... Deixei-lhe caríssima amiga a "deixa" da "ingenuidade"... Um tema muito suave, cativante e gentil. Tem a palavra, se a quiser tomar.
Ingenuidade, amor incondicional, rendição, confiança, fé, olhar no fundo de alguém e sentir que podemos dizer e fazer todas a coisas "tolas" que nos fazem sentir bem, rir e fazer rir, provocar gargalhadas altas que nos vêm do fundo da alma e do estômago que nem sabíamos possíveis e que fazem espantar. A inocência que os outros vêem em nós e que só encontramos quando a perdemos mas não de todo por num certo sentido sempre seremos crianças.
Isso mesmo, Emília!... Tudo o que acabo de ler, e que tão bem desenha, tem um nome, ou por outra, várias designações. Desde intimidade, imensa intimidade, também largueza de gestos, economia de palavras, esse impressionante e contagioso sentir dos ciclos da respiração de quem ali está, mais em nós do que nós em nós próprios. Intimidade, desafogo, simbiose, entrega desmistificada, dádiva soberana do que até desconhecemos no nosso corpo ao outro, abrirmo-nos sabendo que nos espera compreensão e confiança, aceitação e a não necessidade de interrogar, aconchego e luz, colo (sempre colo...) e beijos, sabedoria partilhada e momentos de desinibição admiráveis e gratificantes. Não é tanto inocência, mas projecção em quem nos espera, tal como somos, tal como nos fizeram. Perdermo-nos dentro de alguém é maravilhoso, mesmo sabendo que esse alguém é como nós um outro precipício, e olhando-o, sentiremos vertigens, a vertigem de integrarmos também a sua vida. Não somos verdadeiramente nós, sem nos completarmos no outro. E o outro completando-se a pouco e pouco em nós, confiando, confiando sempre, pois a confiança é levedura para este pão, para este fabrico.
Assim, nós!... Elos de uma cadeia, anéis ou argolas entrelaçados, em união, tensos, pingando, resistindo à tracção. Em louvor da Amizade.
ResponderEliminarPorque é que tem de haver tensão e resistência?
ResponderEliminarEm união, em esforço conjunto, para atingir a expressão total do útil e do objectivo, existe - por consequência da força que colocamos - algo de tensão, e não só. Também resilência, e resistência para suportar o mesmo esforço. Os argolões aí estão à vista -na foto - agarrados, apertados uns aos outros, esticados, oferecendo tudo, todo o seu máximo. Nós?!... Tem toda a razão, Emília!... Nós não precisamos dessa grelha, desse espalmar de "tensão" e "resistência" para estarmos unidos, na procura do mesmo fim. Eis, pois, qualquer forma de equívoco e interpelação e ainda de interrogação que uma simples foto pode provocar, quando nos propomos adular a mensagem com trajes de metáfora, da metáfora que ela nos sugere. A amizade não necessita de viver em tensão, nem em situação de resistência, pois a mesma é livre, em adaptação permanente, e tem em vista criar conformo, ternura, certezas. Fi-la talvez pensar em contradições, sem querer, mas descrevia somente o que a foto me revelava naquele momento. Ao correr do pensamento... Porém, de certo modo pretendia assemelhar esse conjunto à força e à "movida", à movimentação que uma amizade (a nossa, por exemplo...) pode criar e desenvolver, quando sentida, partilhada, autêntica, continuada! (Esta "coisa" de criarmos, de fazermos crescer uma amizade com alguém que nunca se viu, não se conhece reciprocamente, só para almas do tamanho das nossas!...) Toda a minha vida, Emília, escrevi diariamente em órgãos de comunicação social, para um determinado público, dirigindo-me ao anónimo, ao cidadão, ao homem da rua, pensando que me leria, dirigindo-me - pois- a quem desconhecia totalmente. Todavia, é belo, instrutivo, às vezes até grandioso, e até bonito conversarmos com o leitor incógnito, que gosta do que escrevemos, ou mesmo abomina o recheio do que pretendemos comunicar. Comecei muito cedo e ainda continuo. Não só nos jornais e revistas, nos livros, como na rádio, em palestras, falando para grandes, pequenos ou médios grupos. As voltas da vida levaram-me a um outro "métier", que é aquele que exerço em "full time", e que se encontra muito longe disto, e contudo também é feito de comunicação, de comunicação com os outros. Faço-me compreender?!... Tão simples. "Branco é, galinha o põe", reza o aforismo... É bom escrever para si.
ResponderEliminar...Como na fábula de Narciso, Emília, o sujeito conhecedor e o objecto conhecido mergulham um no outro e, nas águas niveladoras do saber, entre verdade e imagem, entre corpo e reflexo não há separação possível... Como nos ensina o Professor Eduardo Lourenço Faria.
ResponderEliminarO reflexo do que se procura e encontra pode revelar o sufoco da alma e a liberdade do espírito se aos nossos olhos nos fizermos entender.
ResponderEliminarPoderá, sim... no que diz ao "sufoco da alma", se o soubermos captar, assimilar, sem nos fixarmos demasiado, sem nos deixarmos prender integralmente na imagem. No entando, quanto a mim, não é na fábula de Narciso que se poderá escolher o melhor caminho, o caminho pessoal e intransmissível para colhermos a liberdade de espírito, a verdadeira, a autêntica. Esta mesma quer-se livre, desvinculada, renovada, revolucionária em si mesma, em qualquer parte, sob quaisquer condições "atmosféricas", sob quaisquer ventos, soprem donde soprarem. Olhe que não podemos unicamente fazermo-nos "entender" aos nossos olhos... Seria extremamnete redutor, pobre e finalizante. Nós, Emília?!... Nós não pensamos nada, não existe propriamente um Homem "pensante", nós "ouvimos" apenas, e ouvindo e ouvindo-nos julgamo-nos "pensantes". É complexo?! Verá que não tanto, como possa parecer ao primeiro olhar... Não sei se subscreverá este ponto de vista... É sempre independente quer no discordar ou no conjugar. Não receie...
ResponderEliminarLivre, pode alguém ser inteiramente livre, desvinculado? Não acredito que seja possível porque temos sempre raízes em algum lugar.
ResponderEliminarDevia confiar no mundo? Sim mas perdi a esperança de reaver a sua ingenuidade há muito tempo, acho que já não consigo recuperá-la.
Posso ouvir e ouvir-me, não sei se sou pensante mas tenho de querer ouvir e querer analisar o que ouvi, traduzir, não é o mundo que fala comigo sou eu que ao vê-lo o quero compreender, isso não é pensar?
Quando me refiro a "livre, desvinculado/a", referia-me à liberdade de espírito, ao pensamento e à sua própria distensibilidade, ao modo de opinião, ao que essa opinião pode ajudar-nos a ver muito mais "mundo" e muito o íntimo dos outros que passam ao nosso lado. E nisto acredito, e o tento praticar e levar a termo. Que importa se demonstro ingenuidade?!... Ser um pouco ingénuo sem perigar a nossa própria individualidade e dignidade é bom, é doce e denota apreço, conciliação pelos mais e estar em paz connosco próprios e com o os outros. Lanço-lhe de novo o apelo à confiança!... Aliás, se não fosse o primeiro a acalentar confinça em si, não lhe estaria a escrever, aqui neste momento. Já pensou?!... Dir-me-à que não a conheço. Pois, sim. Mesmo os que não conhecemos são sempre um desafio hermenêutico para nós. Ou não?!... Todavia se um de nós, Emília, não for dando os primeiros passos, como caminhar, como alcançar, como falar, como saber como o outro pensa? Como dar-nos aos que necessitam de nós, sem esperarmos ou querermos paga imediata. Claro que no "absoluto" não existe liberdade total, e aqui concordo com a Emília!... Não há "livre" absoluto, não existe ninguém verdadeira e inteiramente livre e independente... Porém, podemos idealizar o outro sentindo-o como uma fonte de conhecimento para nós, para nos cultivarmos, nos instruirmos, para nos educarmos, aquirirmos saberes e códigos que nos ajudarão a percepcionar, a pensar, a interpretar. Também é evidente que temos raízes em um lugar, ou mais. Raízes culturais, familiares, sociais, institucionais, operáticas. E é muito bom tê-las, porque fomos criados para pertencer a algo, a um lugar(es), a uma pessoa(as). Este sentido de pertença doce, sedutor, cativante, igualmente se nos torna indispensável para a nossa incompletude. É um dos caminhos que conduz ao ser gregário, à empatia, à necessidade de ter mais e melhor do outro, daquele(a) que nos completa, pois nascemos incompletos, insuficientes, e sozinhos. Aprendi que há sempre a possibilidade de descobrir alguém em quem confiar. E é um desafio permanente. Não propriamente a prática dessa expressão "confiar no mundo" em geral e em abstracto, leia-se, em toda a gente. A cada ser que contacta comigo, deixo-me restar na posição de aprender. Igualmente consigo, Emília, sem nada saber de si, tenho aprendido, pode crer! E no último parágrafo, compreendo-a, mas sempre continuando a afirmar-lhe que "o mundo, os outros também falam consigo", a par do seu esforço de interpretação. E - certamente - isso é como diz uma forma de pensar. Não sobeja dúvida!... Provavelmente alguém ou muitos a desiludiram, mas isso não pode tirar-lhe a possibilidade de poder acreditar e confiar. A ingenuidade é falta de conhecimento. A ingenuidade pode ser uma virtude.
ResponderEliminarEscrevi demasiado, eu sei. Não vai ter pachorra - passe a expressão popularucha... - par me ler. No entanto... Deixei-lhe caríssima amiga a "deixa" da "ingenuidade"... Um tema muito suave, cativante e gentil. Tem a palavra, se a quiser tomar.
ResponderEliminarEscreva o que quiser eu vou ler.
ResponderEliminarIngenuidade, amor incondicional, rendição, confiança, fé, olhar no fundo de alguém e sentir que podemos dizer e fazer todas a coisas "tolas" que nos fazem sentir bem, rir e fazer rir, provocar gargalhadas altas que nos vêm do fundo da alma e do estômago que nem sabíamos possíveis e que fazem espantar. A inocência que os outros vêem em nós e que só encontramos quando a perdemos mas não de todo por num certo sentido sempre seremos crianças.
Isso mesmo, Emília!... Tudo o que acabo de ler, e que tão bem desenha, tem um nome, ou por outra, várias designações. Desde intimidade, imensa intimidade, também largueza de gestos, economia de palavras, esse impressionante e contagioso sentir dos ciclos da respiração de quem ali está, mais em nós do que nós em nós próprios. Intimidade, desafogo, simbiose, entrega desmistificada, dádiva soberana do que até desconhecemos no nosso corpo ao outro, abrirmo-nos sabendo que nos espera compreensão e confiança, aceitação e a não necessidade de interrogar, aconchego e luz, colo (sempre colo...) e beijos, sabedoria partilhada e momentos de desinibição admiráveis e gratificantes. Não é tanto inocência, mas projecção em quem nos espera, tal como somos, tal como nos fizeram. Perdermo-nos dentro de alguém é maravilhoso, mesmo sabendo que esse alguém é como nós um outro precipício, e olhando-o, sentiremos vertigens, a vertigem de integrarmos também a sua vida. Não somos verdadeiramente nós, sem nos completarmos no outro. E o outro completando-se a pouco e pouco em nós, confiando, confiando sempre, pois a confiança é levedura para este pão, para este fabrico.
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